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Foto do escritorSebastian Bieberle

A indústria de papel e celulose e seus impactos ambientais

Como parte da Semana de Meio Ambiente seguimos com uma série de postagens sobre os impactos que a Schöpf Papier vem gerando ao longo dos últimos anos. Porém antes de mostrar estes resultados eu gostaria de falar um pouco sobre os impactos do setor de papel, especialmente no Brasil.


A indústria de papel e celulose carrega enorme importância para a economia brasileira. Nos últimos anos o país se consolidou como o segundo maior produtor de celulose no mundo. O segmento contribui, atualmente, com aproximadamente 5% na formação do PIB do país (dados de Janeiro 2020). E não é difícil notar o motivo dessa importância. Basta olhar dentro das nossas lixeiras, com diferentes gramaturas, tamanhos, formatos e cores, o papel sempre está presente de alguma forma no cotidiano. Seja em embalagens, material escolar e de escritório, caixas...são muitas as aplicações do material.


No terceiro semestre de 2020, o país produziu 5,37 milhões de toneladas de celulose, de acordo com dados divulgados pela Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), um crescimento de 7,5% em relação ao mesmo período de 2019. De toda a produção, 75% foi destinada para exportação, totalizando 14,7 milhões de toneladas.

Estes dados fazem os empresários do setor darem saltos de alegria, pois somos os maiores exportadores de celulose do mundo. A maior empresa de celulose do mundo, a Suzano é brasileira e junto com a Bracell, Klabin, Eldorado e Cenibra o setor tem crescido muito nas últimas décadas. Tudo muito bom se não fosse pelo gigantesco impacto ambiental que elas geram!



Mesmo que, em comparação com outros materiais, o papel tenha menor impacto no meio ambiente como resíduo, se decompondo rapidamente, o material gera imensos impactos na sua fase de produção:

Para cada tonelada de papel, são necessários:

  • 2 toneladas de madeira;

  • 15 árvores;

  • de 44 a 100 mil litros de água;

  • de 5 a 7,6 mil KW de energia

Cada tonelada de papel gera (volume de lixo):

  • 18 kg de poluentes orgânicos descartados nos efluentes;

  • 88 kg de resíduos sólidos (de difícil degradação, como lama de carbonato, rejeito de fibras e lodo primário) que podem causar grandes impactos ao meio ambiente se não forem tratados corretamente.


REFLORESTAMENTO E CAPTURA DE CARBONO


As grandes empresas citadas acima fazem constante uso de um argumento que a primeira vista parece válido. Atualmente, quase a totalidade do papel e celulose produzidos, são a partir de madeira reflorestada. Diminuindo imensamente os impactos em relação à períodos anteriores com a exploração de florestas nativas. Mesmo assim, existem vários problemas associados à extração desse recurso. O reflorestamento através da monocultura de espécies exóticas (pinus ou eucalipto), causam problemas como: Desertificação do clima e de solo; diminuição da biodiversidade vegetal e animal; esgotamento da água e uso de agrotóxicos e defensivos agrícolas tóxicos.


Anualmente relatórios de sustentabilidade como este da Suzano são divulgados, cheios de dados e muito blábláblá sobre como a indústria deles é boa para o meio ambiente, mas na minha opinião eles fazem somente o mínimo necessário para mitigar os impactos negativos que eles causam.


USO DE ÁGUA E SEU MANEJO


O maior impacto da indústria está relacionado ao alto consumo de água. Todas as indústrias fazem uso deste recurso, seja em uma ou mais etapas de sua operação, porém na indústria de papel e celulose, o consumo é especialmente intenso, principalmente nos processos de descascamento, lavagem, digestão e limpeza da pasta celulósica, e no branqueamento. O consumo médio da água nas indústrias de celulose é de aproximadamente 60 m3/tsa (metro cúbico por tonelada de celulose seca ao ar).

O volume de água que entra no processo não o deixa nas mesmas condições. A água que entra se transforma em um aglomerado de substâncias sólidas e líquidas com uma grande carga de agentes químicos.

Assim, a questão ambiental no setor não é preocupante apenas pela grande dependência de recursos naturais, como fibras vegetais, energia e água. Mas também por ser um grande gerador de resíduos. Entre eles estão: dióxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, material particulado e compostos orgânicos tóxicos (cloro e sulfetos de hidrogênio).

Para ilustrar o potencial dano desses tipos de efluentes, quando mal geridos, pode-se citar o exemplo que ocorreu com a Indústria Cataguases de papel, em março de 2003, em Minas Gerais. Nesta ocasião, uma barragem que, de acordo com a empresa, pertencia à antiga Indústria Matarazzo de Papéis, situada anteriormente naquele local, se rompeu.

O acidente liberou milhões de litros de lixívia preta, enxofre, soda cáustica e outros produtos resultantes da produção de celulose. Esses produtos atingiram o Rio Pomba, afluente do Rio Paraíba do Sul. Isso resultou num catastrófico prejuízo para a vida aquática do local.



RECICLAGEM É SOLUÇÃO?


Toda reciclagem no fim das contas é somente um paliativo para resolver o problema ambiental que enfrentamos, porém pode ajudar a mitigar os impactos causados pela produção, seguem alguns dados:

  • A fabricação de papel a partir de resíduos de papel economiza cerca de 85% da água usada na produção normal de papel e reduz a poluição da água em 92%.

  • A taxa de recuperação sobre o total de papel que entrou no mercado em 2018 foi de 68% (Segundo relatório anual da ANAP 2019), o que faz do Brasil um dos maiores recicladores de papel no mundo. Uma tonelada de papel reciclado economiza aproximadamente 0,4 hectares de floresta.

  • A reciclagem de papel exige 30% da energia elétrica e 70% da água que normalmente seriam necessárias para sua produção a partir da madeira.

  • O papel pode ser reciclado até 11 vezes em diferentes tipos de papelão.

  • O papel representa um dos principais componentes de resíduos sólidos em aterros, com aproximadamente 16% deles.

  • Quando o papel se decompõe em um aterro, libera metano, um gás de efeito estufa muito mais potente que o dióxido de carbono.

  • Ao reciclar uma tonelada de papel, podemos economizar 20 árvores, 7.000 galões de água, três jardas cúbicas de aterro sanitário e quase 30 kg de poluentes atmosféricos.

Portanto entendemos que sim, reciclar e consumir produtos de papel reciclado faz sim uma grande diferença. Por isso a Schöpf existe, ao longo da nossa existência já reciclamos mais de 3,5 toneladas de papel, o que corresponde a uma redução de ˜9380kg/parte de milhão na atmosfera; 105.000 litros de água economizados e cerca de 147.000 kW economizados.


Mas queremos ir além, por isso, a cada 10kg de papel que recolhemos de empresas, residências e comércios, nós plantamos 1 árvore, ou seja, já plantamos mais de 350 árvores. A idéia é compensar os impactos causados pela produção e utilização daquele material recolhido. Entre as espécies estão frutíferas (goiabeiras, pitangueiras, abacateiros, mangueiras, jambuzeiros...) e floríferas (ipês, paineiras, aroeiras...), que são plantadas em uma fazenda agroflorestal no interior do Rio de Janeiro.








Mesmo que a reciclagem seja um grande aliado, o design de produto é o vetor mais potente e capaz de gerar mudança. Me explico: muitas embalagens usam papel laminado com outros materiais como plástico, tinta e alumínio, algumas com diversas camadas, como é o caso do TetraPak. Estes materiais muitas vezes deixam de ser reciclados por serem os chamados "monstros híbridos", impossíveis de serem separados sem uma tecnologia específica. Mesmo que a embalagem leve o selo das três setinhas, não quer dizer que existam empresas que compram e reciclam este material. Este problema é muito bem ilustrado neste vídeo. Você, como toda a sua boa vontade, separa o seu resíduo desejando que ele seja reciclado, mas no final ele acaba no aterro /:


Isso acontece com a maioria das embalagens e por isso que digo que a reciclagem é somente um paliativo. É preciso que criemos soluções a partir do design inicial da embalagem...falei mais sobre a Economia Circular e o poder do design em um post antigo, entenda melhor aqui.


A parte disto, nós consumidores temos o papel mais importante nesta mudança, temos em nossas mãos o poder de mudar a indústria. Consumindo de forma mais consciente, escolhendo produtos que optam por embalagens recicladas, ou que oferecem a logística reversa. Podemos nos recusar a comprar certos produtos, escolher soluções que não usam embalagens, mesmo que sejam ligeiramente mais caras, já existem dezenas de empresas oferecendo produtos e serviços mais sustentáveis!

Enfim, há muito que podemos fazer antes de reciclar, costumo dizer aos meus alunos que antes daqueles velhos 3 Rs (Reduzir, Reciclar e Reutilizar) existem pelo menos outros 3: Repensar, Redesenhar e Recusar.

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